Alguém próximo a você sofre de depressão ou tem ideação suicida? É preciso falar (e ouvir) sobre isso. Buscar informação sobre o assunto é fundamental para não se deixar levar por mitos.
Aqui, você encontra informações sobre sinais de comportamentos suicidas, dicas sobre como conduzir uma conversa, o que não falar e também como lidar com essa situação em período de pandemia e isolamento social.
Setembro Amarelo e a pandemia
Todos os anos, cerca de 11 mil brasileiros tiram a própria vida. No mundo, o número de suicídios, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), é de 800 mil por ano. Estima-se que cada morte por suicídio afete intimamente a vida de cerca de 60 pessoas, entre familiares, amigos e colegas.
Ainda não há dados precisos sobre o impacto da pandemia e do isolamento social na saúde mental e nos números de suicídios. Porém, uma pesquisa feita pela Associação Brasileira de Psiquiatria revela que 89,2% dos especialistas entrevistados destacaram o agravamento de quadros psiquiátricos em seus pacientes devido aos efeitos do novo coronavírus na sociedade.
Questões familiares evidenciadas, o medo da doença, a incerteza em relação à economia, a solidão, o afastamento de atividades de lazer, a dificuldade na busca por tratamento psicológico… são muitos os fatores que contribuem para essa piora e sobre os quais se precisa falar.
Com internet e telefone, o distanciamento físico não precisa significar a perda dos contatos. É importante estar aberto para procurar e oferecer escuta.
Pequenas atitudes mostram que as amizades seguem firmes: vale telefonemas, videochamadas, mensagens, o que funcionar melhor para cada um. Perguntar como a pessoa está, compartilhar fotos e até memes que te façam lembrar dela são formas de se fazer presente.
Com streaming, é possível combinar de assistir ao mesmo filme e comentar em tempo real por mensagens. E que tal mandar um delivery de uma comida que você sabe que a pessoa gosta?
Como identificar comportamentos suicidas
Não é possível prever com certeza se uma pessoa vai ou não tirar a própria vida. Existe uma série de elementos – psicológicos, biológicos, culturais e socioambientais – que podem levar ao desfecho.
É preciso estar atento ao comportamento das pessoas à sua volta e não ignorar sinais que podem ser pedidos de ajuda.
Existem alguns possíveis sinais de comportamento suicida:
- Falar muito sobre a própria morte e demonstrar desesperança em relação ao futuro
- Usar expressões que manifestam intenções suicidas: “vou desaparecer”, “vou deixar vocês em paz”, “eu queria poder dormir e nunca mais acordar”, “é inútil tentar fazer algo para mudar, eu só quero me matar”, “vocês vão ficar melhor sem mim”, não aguento mais”
- Reduzir as interações: não atender a telefonemas, não responder mensagens ou ser evasivo
- Apresentar grandes mudanças de humor (estar eufórico em um dia e profundamente desencorajado em outro)
- Ter atitudes arriscadas, como dirigir de forma imprudente ou entrar em brigas
- Começar a se despedir de amigos e familiares como se não fosse vê-los novamente
Fonte: Ministério da Saúde e Portal DV
Cerca de 17% dos brasileiros já pensaram alguma vez em suicídio. O risco de ser efetivado aumenta se a pessoa já fez planos sobre isso e dispõe de meios para executar.
Pratique a escuta ativa
Mesmo com o distanciamento social, é possível perceber mudanças no comportamento on-line de seus entes próximos, especialmente aqueles que você sabe que são depressivos ou estão em sofrimento.
Nesse caso, é importante chamar a pessoa de maneira privada e tranquila para conversar de forma aberta, respeitosa e empática. Pergunte como a pessoa está, o que tem feito ultimamente, como está se sentindo.
Manifeste sua preocupação e se mostre aberto para ouvir. Não tenha medo de perguntar sobre a vontade de morrer. Isso não induz ao ato. Pelo contrário: ajuda a pessoa a falar e buscar ajuda.
Evite falar muito sobre si, oferecer soluções simples, julgar ou menosprezar o problema. Frases como “não acredito que você pensou nisso”, “isso é pecado”, “pra sair dessa é só querer”, “tem gente em situação pior”, “isso é frescura”, “não precisa chorar por isso”, “você tem tudo do bom e do melhor” não ajudam a demover as intenções. Pior: tendem a encerrar a conversa.
A escuta ativa é fundamental para que a pessoa sinta que está realmente sendo ouvida e compreendida. Isso não significa, no entanto, deixar a pessoa falando sozinha e apenas ouvir. Confira algumas pontuações que podem ser feitas ao longo da conversa:
- Faça perguntas abertas (como: o que você tem feito?, como está se sentindo?)
- Resuma brevemente o que a pessoa falou, de tempos em tempos, para que ela saiba que você está atento ao que ela diz (é uma forma de ela mesmo se escutar)
- Retorne a algum ponto que não tenha ficado claro e tente, ao máximo, escutá-la sem julgamentos
A importância do acompanhamento profissional
Uma das características do pensamento suicida é a distorção mental da percepção da realidade. A pessoa tem uma avalição rigorosamente negativa sobre si, sobre o mundo e sobre o futuro. Muitas vezes, vislumbra apenas a morte como possibilidade para o fim de um sofrimento. Isso somado a um comportamento impulsivo pode levar a um fim trágico.
Você pode ajudar se oferecendo para marcar a consulta com um profissional. A hipnoterapia é uma excelente aliada para esses casos. Também é importante manter o contato com a pessoa, mostrar que está junto e acompanhar a evolução.
Se você acha que essa pessoa está em perigo imediato, a orientação do Ministério da Saúde é não deixá-la sozinha. Você pode procurar ajuda de profissionais de serviços de saúde, de emergência ou entrar em contato com alguém de confiança, indicado pela própria pessoa.
Se a pessoa com quem você está preocupado vive com você, assegure-se de que ela não tenha acesso a meios para provocar a própria morte em casa.
Você também pode indicar os serviços oferecidos pelo CVV, disponível em www.cvv.org.br, que trabalha para promover o bem-estar das pessoas e prevenir o suicídio, em total sigilo, 24h por dia.